Da série coisas que só acontecem com a Analu: tudo certo para eu ir pra Tailândia, passagem comprada, esquema de trabalho em troca de hospedagem acertado, lista dos locais que eu queria visitar definida, e pá! O rei morre.
Para ser sincera, eu nem sabia que a Tailândia era uma monarquia até então. Aí, estou eu muito bem na Malásia e acordo um belo dia bombardeada por mensagens do Brasil e marcada em 367 posts do Facebook sobre a morte do monarca e como as coisas mudariam em terras tailandesas por causa do luto. Quando li tudo (e sim, eu li TUDO que aparecia por medo, mas também pela falta do que fazer causada pelos dias de chuva que eu peguei), achei que o povo estava exagerando. Mas claro que quando cheguei por aqui, percebi que as coisas realmente estavam estranhas.
Para começar, todo mundo só está vestindo roupas pretas. Mesmo. Já tem quase um mês e as pessoas continuam vestindo preto. Quem usa uniforme de outra cor para trabalhar, coloca uma fitinha preta para indicar o luto. E parece que as lojas só tem peças pretas ou brancas (que é a outra cor aceitável, mas você vê em uma quantidade muito menor) para vender. Sorte minha que mais da metade do meu guarda-roupas é formado por modelitos dessa cor, mesmo que eles não liguem muito para o que os turistas estão usando (melhor evitar confusão).
Tem muitos “mini-altares” em homenagem ao rei em qualquer lugar. Na frente de prédios, nas estações de trem, nos shoppings, nos templos e museus, sempre tem uma foto enorme do rei rodeada de arranjos de flores.
Ainda não entendi muito bem como funciona, mas para celebrar a benevolência do falecido, doações estão sendo recolhidas e distribuídas para população. Já vi água (mineral, na garrafinha, e gelada ainda por cima), comida, flores e vários tipos de brindes. Conheci um belga aqui no albergue que descolou um almoço completo sem pagar nada, e ainda ficou #chateado porque não conseguiu ganhar o guarda-chuva.
No que se refere às festas, as coisas estão mais confusas. Na teoria, era pra não ter nada pelo menos no próximo mês, mas o povo dá seu jeitinho. É verdade que várias boates estão fechadas, mas na infernal Khaosan Road (que merece um post só pra ela um dia) todos os estabelecimentos continuam abertos até altas horas. A tal da Full Moon Party foi oficialmente cancelada, mas ouvi dizer que as pessoas foram pra lá mesmo assim e como não tinha música, ficaram cantando num clima rave à capela.
E tem as interdições no trânsito que podem acontecer a qualquer hora em qualquer lugar para a passagem de algum carro oficial. E quando eu digo trânsito, isso inclui os pedestres na brincadeira. Quando eu estava prestes a atravessar a rua hoje para chegar mais próximo do Grand Palace (que por sinal, continua com uma parte fechada à visitação), um militar que estava fazendo a guarda simplesmente mandou que eu sentasse no chão. Gelei, achando que eu tinha feito alguma coisa muito errada, mas aí eu olhei em volta e vi que estava todo mundo sentadinho. Sentei também, fazer o quê? Uns minutos mais tarde, passou o carro onde estava o príncipe, e logo depois fui liberada para continuar meu caminho.
Só mais alguns detalhes sobre esse episódio: 1)sentar com os pés apontando para frente é desrespeitoso, então o guardinha chamou a minha atenção para que eu sentasse com as pernas cruzadas “de chinês”; 2) eram três da tarde, um sol escaldante, abri a sombrinha para me proteger, mas também não podia; 3) óbvio que na hora de levantar, uma das minhas pernas estava dormente e quando o guarda percebeu (já que eu estava dando umas batidinhas com o pé no chão), ainda riu da minha cara, pode isso, Arnaldo?
Mas nem tudo são lágrimas, pelo menos não pra mim que estou visitando vários lugares sem precisar pagar pela entrada (viva a benevolência real!) e ainda descolei uma aguinha gelada “de grátis” numa tarde escaldante enquanto esperava o príncipe passar.